domingo, 9 de dezembro de 2012

Baclofeno, Remédio para esclerose múltipla e Parkinson pode tratar alcoolismo


Um estudo francês concluiu que o baclofeno, um relaxante muscular que originalmente é prescrito a pessoas com doenças neurológicas, como esclerose múltipla e Parkinson, pode ser eficaz no tratamento de alcoolismo a longo prazo. Segundo a pesquisa, publicada na última sexta-feira na revista médica Frontiers in Psychiatry, os efeitos positivos da droga entre pessoas com dependência em álcool podem durar por pelo menos dois anos.

O uso do baclofeno no tratamento do alcoolismo já vem sendo estudado por outros pesquisadores. No entanto, o medicamento havia sido testado apenas a curto e médio prazos, em um período de seis meses e um ano após o início da abordagem. O novo estudo, desenvolvido no Grupo Hospitalar Paul Guiraud, na França, acompanhou, entre 2008 e 2010, 100 pacientes alcoólatras (todos classificados como "alto risco"), que haviam se mostrado resistentes aos tratamentos convencionais. Ao longo do estudo, eles foram divididos em três grupos: alto risco, médio risco e baixo risco. Todos foram tratados com doses crescentes de baclofeno — a dosagem média foi de 147 miligramas da substância ao dia.

Após dois anos, o número de pacientes que se tornaram totalmente abstinentes ou que passaram a ter um consumo normal e controlado caiu em 50%. Além disso, após três meses a partir do início do tratamento, a soma das porcentagens dos pacientes que estavam entre baixo risco (conseguiam controlar o consumo de bebida alcoólica) ou risco moderado (conseguiram diminuir significativamente o consumo de álcool, mas sem ainda ter total controle) de alcoolismo foi de 84%. Depois de seis meses, essa taxa foi de 70%; após um ano, de 63%; e, dois anos depois, de 62%.

Recaídas - O aumento no número de pacientes em alto risco entre o terceiro e o sexto mês se deve ao fato de que alguns dos pacientes que haviam conseguido reduzir o consumo com o baclofeno tiveram recaídas. Esses pacientes foram incapazes de manter o consumo reduzido, provavelmente devido ao vínculo com o hábito de beber e à motivação insuficiente para largar o vício. Segundo os pesquisadores, grande parte dos voluntários estava tão ritualizada ao hábito de beber que não conseguia parar, mesmo quando o apetite pelo álcool foi reduzido com o uso do baclofeno.

Entre os efeitos adversos mais comuns do medicamento estão fadiga e sonolência. Renaud de Beaurepaire, que coordenou o estudo, é um dos pesquisadores de um trabalho em escala nacional que está aprofundando os conhecimentos em torno do baclofeno como terapia contra o alcoolismo. A previsão é que essa pesquisa seja publicada em 2014.
Dr.Renaud de Beaurepaire

O último copo
A ideia de usar o baclofeno para tratar o alcoolismo partiu do médico francês Olivier Ameisen, ele próprio um alcoólatra. Em 2002, Ameisen, respeitado cardiologista da Universidade Cornell, em Nova York, começou a testar o baclofeno em si mesmo, depois de se submeter a vários programas de reabilitação — de encontros no grupo Alcoólicos Anônimos a internações em clínicas especializadas. Ele narrou sua experiência com o medicamento no livro Le Dernier Verre (O Fim do Meu Vício, Ed. Fontanar), best-seller na Europa e nos Estados Unidos. "Eu precisava dos efeitos do álcool para existir em sociedade", conta ele no livro. Uma reportagem de VEJA de 2009 conta como teve a ideia de usar o baclofeno. Uma notícia de jornal despertou sua atenção: havia indícios de que o baclofeno poderia ser usado no combate à dependência de cocaína. "Por que não para o alcoolismo?", pensou Ameisen. O médico, então, decidiu tomar o remédio. Ele testou várias dosagens, até estabelecer o ideal em 50 miligramas por dia. O baclofeno ajudou Ameisen a se satisfazer com doses menores de álcool: "Hoje posso tomar um copo de vinho e não ficar com aquela vontade irresistível de beber mais", disse então à reportagem de VEJA. Em 2009, ainda não havia comprovação dos efeitos do medicamento sobre os alcoólatras, embora vários médicos já o testassem em seus pacientes. Com este novo estudo, surge a mais forte evidência de sua eficácia.

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