segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Número de transplantes cresce 124% em 10 anos no Brasil



O número de transplantes realizados no Brasil aumentou em 124% na última década. Passou de 10.428, em 2001, para 23.397, em 2011. Além disso, em 2011 o país teve o maior aumento anual em números de transplantes da década: 2.357 cirurgias a mais do que em 2010. Com isso, foi atingida a marca de 11,4 doadores por milhão de habitantes — ultrapassando a meta de 10 por milhão. O balanço foi divulgado nesta quarta-feira pelo Ministério da Saúde.
De acordo com os dados apresentados pela pasta, o Brasil é hoje o maior sistema público de transplantes do mundo, com 95% dos procedimentos realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Entre os órgãos sólidos, como coração, fígado e pulmão, o país responde por 5% dos transplantes desses órgãos realizados em todo o planeta. Em 2011, o país bateu recorde ao registrar 2.207 doadores de órgão, 63% a mais que em 2008.

Segundo Alexandre Padilha, ministro da Saúde, o número das unidades chamadas Organização de Procura de Órgão (OPO) chegou a 35 em 2011. Esses centros são os responsáveis por encontrar órgãos viáveis de transplante. "Em 2010, eram apenas 10 unidades, todas em São Paulo. Em 2011, criamos 25 novas, em outros 11 estados do país", afirmou. Para 2012, espera-se que outras 16 unidades entrem em funcionamento em cinco estados.
Desde o início de 2011, o Ministério da Saúde autorizou 54 novos centros de transplantes e credenciou 72 novas equipes para a realização do procedimento. Do total, 16 novos centros e 11 novas equipes passaram a funcionar no Norte e Nordeste do país, para ampliar e diversificar a realização do procedimento nessas regiões. Atualmente, estão em funcionamento 680 centros e 1.074 equipes. O investimento na manutenção e crescimento do Sistema Nacional de Transplantes, coordenado pela pasta, em 2011 foi de 1,3 bilhão de reais.

Os órgãos com maior número absoluto de transplantes realizados no país são córnea e medula. Os que mais cresceram proporcionalmente nos últimos dez anos foram fígado (176%), pulmão (96%) e rim (84%). Coração e pâncreas registraram aumento de 11% e 38% na década. Segundo o Ministério, houve ainda uma redução de 23% da fila de espera de órgãos para transplante, em relação a 2010.
Os registros de medula óssea (doadores disponíveis) chegaram a 2,5 milhões em 2011. De acordo com Luiz Fernando Bouzas, diretor do Centro de Transplante de Medula Óssea do Instituto Nacional de Câncer (Inca), as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, que antes respondiam por apenas 3% dos registros, conseguiram chegar à marca de 30%. "Esse aumento nos possíveis doadores traz a diversidade da população brasileira para o cadastro, facilitando o encontro de doadores", disse.
Luiz Fernando Bouzas
Estrangeiros - Os estrangeiros não residentes no Brasil, que esperam por uma doação, poderão ser submetidos a transplantes de órgãos, tecidos ou partes do corpo humano no país desde que o doador seja vivo — cônjuge ou parente consanguíneo até o quarto grau, em linha reta ou colateral. A realização do procedimento no estrangeiro não tira ou entra à frente de um brasileiro da lista da espera.
A portaria regulamentando o procedimento foi publicada hoje no Diário Oficial da União e vale para as cirurgias realizadas na rede privada. A realização desses transplantes com recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) só é possível com prévia existência de acordos internacionais em base de reciprocidade.
De acordo com o Ministério da Saúde, a medida atende principalmente a população de fronteira que, por vezes, não conseguia ter acesso à cirurgia por falta de uma lei que regulamentasse o procedimento. Pela legislação em vigor, estrangeiro não tem acesso ao banco de órgãos coordenado pelo Sistema Nacional de Transplantes do Ministério da Saúde.

Doações — Os bons números, no entanto, não descartam a necessidade de aumentar o número de doadores. "Por melhor que seja a captação no Brasil ou em qualquer outro país, nunca haverá o número de órgãos suficientes para atender ao número de candidatos", disse, durante o anúncio, Silvano Raia, coordenador da Escola de Transplantes do Hospital Sírio-Libanês.
Essa lacuna acontece porque a sobrevida da população vem aumentando, o que reduz o número de possíveis doadores. Para tentar sanar o problema, o Ministério da Saúde prepara edital para investimento em centros de pesquisa em regeneração de órgãos e no aproveitamento de órgãos "recauchutados" da própria pessoa. "Nestes casos, a rejeição é menor, e ainda é possível usar um órgão regenerado, que, sem a técnica, teria sido descartado", diz Raia. Nestes casos, o órgão passa por um processo que o deixa quase novo e pronto para ser usado novamente. A técnica ainda é nova e foi introduzida este ano no Brasil, principalmente em transplantes de pulmão.

Opinião do especialista

Ben-Hur Ferraz Neto- Responsável pela equipe de transplante de fígado e multivisceral do Hospital Albert Einstein, em São Paulo
"O Brasil tem vários motivos para comemorar, o desempenho dos transplantes foi muito bom nos últimos anos, mas é sempre bom lembrar que vivemos em um país de muitas diferenças, o número de doadores por pessoas chega a variar de 0,6 por milhão no Maranhão para 25,4 por milhão em Santa Catarina, por isso é importante aumentar os investimentos no Sistema Nacional de Transplantes do Ministério da Saúde para sanar essas desigualdades."
Dr.Ben-Hur Ferraz Neto

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