“Um dia Sarai disse a Abrão: – Já que o Deus Eterno não me deixa
ter filhos, tenha relações com a minha escrava; talvez assim, por meio dela, eu
possa ter filhos…” (Gênesis 16.2).
Sarai e Abrão tinham recebido uma
promessa da parte de Deus. Para que ela se cumprisse, eles deveriam ter um
filho. Sarai era estéril e o tempo avançava. Um filho, só por milagre. Mas ela
não conseguiu esperar e fez aquilo que muita gente ainda faz em nosso tempo:
decidiu ajudar Deus. Decidiu “fazer o milagre”. Não sem antes culpar
Deus: “Já que o Deus Eterno não me deixa ter filhos…”.
Quando um crente começa a culpar Deus vai se envolver em enrascadas, sem dúvida
alguma. A racionalização culpabilizante é indício de que a vida espiritual vai
mal. E que mais problemas surgirão.
Sua solução foi fácil. O escravo era uma
coisa, propriedade do dono. O filho que Agar tivesse com Abrão não seria filho
de Agar, mas de Sarai. Ela era dona da escrava e o filho da escrava também
seria sua propriedade. Simples, não? Nós temos algumas soluções tão simples que
nos impressiona que Deus não veja como deve fazer as coisas.
Deu errado, como era de se esperar:
“Quando descobriu que estava grávida, Agar começou a olhar com desprezo para
Sarai, a sua dona” (v. 4). Logo Sarai precisou encontrar alguém para culpar.
Desta vez culpou o coitado do marido: “Aí Sarai disse a Abrão: -Por sua culpa
Agar está me desprezando. Eu mesma a entreguei nos seus braços; e, agora que
sabe que está grávida, ela fica me tratando com desprezo. Que o Deus Eterno
julgue quem é culpado, se é você ou se sou eu!” (v. 5). Mais uma vez ela
envolve Deus na sua embrulhada. Antes ele era o culpado e agora é o juiz que
deve decidir (mas ela já decidiu quem está errado). E foi em frente. Além de
culpar Abrão, maltratou Sarai: “Abrão respondeu: – Está bem. Agar é sua
escrava, você manda nela. Faça com ela o que quiser. Aí Sarai começou a
maltratá-la tanto, que ela fugiu” (v. 6). E mais tarde ainda aumentou a
carga sobre a escrava: “Certo dia Ismael, o filho de Abraão e da egípcia Agar,
estava brincando com Isaque, o filho de Sara. Quando Sara viu isso, disse a
Abraão: – Mande embora essa escrava e o filho dela, pois o filho dessa escrava
não será herdeiro junto com Isaque, o meu filho” (Gênesis 21.9-10).
Sarai, mais tarde conhecida como Sara,
não era uma pessoa fácil de se viver. Faz poucas intervenções, no relato
bíblico, e sempre intervenções que não a elevam muito. Parece ter sido uma
pessoa de temperamento difícil. Mesmo assim tornou-se uma das heroínas da fé.
Na galeria dos heróis da fé, em Hebreus 11, só duas mulheres são mencionadas
nominalmente. Ela e Raabe. Deus a usou e se agradou dela apesar daquilo que
podemos julgar serem defeitos de temperamento. Longe de ser um estímulo a
não procurarmos ser pessoas melhores, isto nos mostra o que é graça. Deus usa
pecadores imperfeitos, cheios de falhas, e glorifica seu nome na vida delas.
O grande problema de Sarai, mais que seu
temperamento, foi não saber esperar. É o problema de muitos crentes. Como um
irmão que orava: “Ó Deus, dá-me paciência! Mas eu quero agora!”.
Jesus soube esperar. Satanás o tentou
para pedir pão, quando ele teve fome: “Então o Diabo chegou perto dele e disse:
-Se você é o Filho de Deus, mande que estas pedras virem pão” (Mateus 4.3).
Sabemos como Jesus reagiu. Mas o mais enriquecedor é como a história terminou:
“Então o Diabo foi embora, e vieram anjos e cuidaram de Jesus” (Mateus 4.11). O
socorro já estava a caminho, quando Satanás se apresentou. Era saber esperar.
Tivesse cedido à sua fome, o Salvador teria caído e com ele todo o propósito de
Deus. Muitas vezes Satanás chega primeiro. É preciso prestar atenção.
Na cruz ele também soube esperar.
Aqueles momentos de dor e de vergonha pareciam intermináveis. Mas a cruz era
necessária. “Desça da cruz e creremos nele!”. Creriam nada! Não havia
atalhos para o plano de Deus. O caminho da fé passa pela cruz. Este é o grande
problema de muitos crentes. Eles querem atalhos, caminhos abreviados, têm
pressa. Querem tudo sem sofrimento. O Salvador foi obediente, cumprindo tudo, e
esperando a ação do Pai. O resultado é conhecido: “Por isso Deus deu a Jesus a
mais alta honra e pôs nele o nome que é mais importante do que todos os outros
nomes, para que, em homenagem ao nome de Jesus, todas as criaturas no céu, na
terra e no mundo dos mortos, caiam de joelhos e declarem abertamente que Jesus
Cristo é o Senhor, para a glória de Deus, o Pai” (Filipenses 2.9-11).
Nossas soluções podem ser as mais fáceis
(aos nossos olhos). Satanás pode chegar primeiro. Não que seja prestativo, mas
porque é voraz. A ação de Deus vem no tempo certo. Saiba esperar. “Ponha a sua
vida nas mãos do Deus Eterno, confie nele, e ele o ajudará” (Salmo 37.5). Deus
faz as coisas certas no tempo certo.
Pr Fábio
Guilhermino da Silva
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